Médicos e tecnologistas discutem o papel da inteligência artificial

06/06/24
Médicos e tecnologistas discutem o papel da inteligência artificial

Por ocasião do Artificial Intelligence Appreciation Day, vai decorrer, na Fundação Champalimaud, uma conferência, no dia 16 de julho, que pretende contribuir para colmatar o fosso entre a inovação em IA e a sua implementação na prática médica.

Familiarizar os profissionais de saúde com as mais recentes ferramentas da inteligência artificial (IA), de forma a que possam aplicá-las na sua prática quotidiana em benefício dos doentes. Este é o objectivo da conferência MEDICA AI, que se vai realizar a 16 de Julho próximo na Fundação Champalimaud (FC). O evento é organizado pelo Digital Surgery Lab, uma equipa multidisciplinar liderada pelo cirurgião Pedro Gouveia e integrada na Unidade de Mama da FC.

Em geral, nos eventos relacionados com a IA, diz Gouveia, “os tecnologistas falam sempre com grande entusiasmo da democratização das ferramentas de IA, utilizáveis numa panóplia de indústrias”. Mas essa mensagem não passa como deveria para área da saúde, que é um mercado “cuja regulação é completamente diferente das demais indústrias”, e onde os erros podem prejudicar gravemente a saúde e o bem–estar das pessoas.

Embora já se tenha começado a observar, em diversas instituições de saúde, a implementação de ferramentas de IA para melhorar a produtividade e a eficiência de processos automatizáveis (tais como a escrita de relatórios médicos), a tecnologia ainda não está a ser utilizada no domínio clínico. À especificidade da área da saúde vem juntar-se o facto que habitualmente, nas grandes conferências que abordam seriamente a temática da IA, há poucos profissionais de saúde.

“Temos tido vários eventos relacionados com a inteligência artificial na Fundação, mas na verdade eles não têm sido eminentemente dirigidos a profissionais de saúde”, salienta Gouveia. Isto leva, segundo ele, “a uma evidente falta de literacia tecnológica” [por parte dos profissionais de saúde], que “impede que eles acompanhem a evolução das melhores práticas dentro da área da saúde – práticas que, com a ajuda da tecnologia e em particular da IA, poderiam resultar em melhores decisões e tratamentos”.

Resultado: há um fosso comunicacional entre tecnologistas e médicos e, consequentemente, uma baixa adopção de IA em saúde. E é este fosso que a conferência MEDICA AI, na qual participam profissionais de saúde e tecnologistas, pretende agora colmatar. “Quisemos preencher este gap, que existe a nível nacional e até a nível internacional, e construir uma conferência cujo nome fala por si para abordarmos a inteligência artificial na medicina.”, afirma o cirurgião.

“Porque é que nós precisamos destas conferências?”, pergunta Pedro Gouveia. E responde: “porque, na verdade, na nossa forma de praticar medicina 50 anos volvidos desde a entrada dos computadores nos consultórios, a única coisa que mudou é que em vez de escrevermos os registos médicos em fichas em papel, agora temos editores de texto para o fazer [em formato digital].”

Na MEDICA AI, profissionais de saúde e engenheiros vão estar lado a lado a conversar. Mas a maioria dos cerca de 20 oradores convidados serão profissionais de saúde, médicos, “porque são eles os decisores que irão poder tomar a decisão de utilizar a tecnologia em prol dos doentes, prescrevendo intervenções que usem inteligência artificial – até para que esses mesmas intervenções seja reembolsadas pela entidade pagadora”, salienta ainda Pedro Gouveia. “Em termos de público-alvo, são profissionais de saúde, como é óbvio, mas também investigadores, a comunidade académica, investidores, empreendedores.”

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